12/02/2008

MENINO, PATA, PEIXE e GALEGO - foto Jaqueline Martins





JORNAL ESTADO DE MINAS





No palco - QUANDO A QUALIDADE BERRA
26/01/08

.

.

Espetáculo resultado do Oficinão do Galpão, Quando o peixe salta realiza com competência a proposta do texto, com elenco afiado e direção de Fernando Mencarelli e Rodrigo Campos
Jefferson da Fonseca




.

Com participação de todo o grupo na criação da montagem, peça ganha coesão, força e dramaticidade.
.

No processo colaborativo a soma faz toda a diferença. O encontro de profissionais múltiplos, em longa jornada de troca, estudo e experimentação, dá ao Oficinão do Grupo Galpão status de laboratório de idéias. É contribuição de Minas Gerais das mais caras ao teatro brasileiro. Em seu décimo ano consecutivo, com nove espetáculos realizados, o projeto atrai artistas de várias partes do Brasil e também do exterior. É extraordinário no cumprimento de seu objetivo primário: permutar conhecimento. Quando o peixe salta, em cartaz no Galpão Cine Horto, até amanhã, pelo 2º Verão Arte Contemporânea, é amostra do bom resultado alcançado com a turma de 2006.Capitaneada a quatro mãos por Rodrigo Campos e Fernando Mencarelli, a montagem está de volta, reeditada, embalada pelos prêmios que recebeu no ano passado. Percebe-se nitidamente que Quando o peixe salta é resultado das inquietações individuais, reunidas, que, organizadas, desdobram-se em emaranhado de boas idéias e soluções cênicas, no mínimo interessantes. Para falar de dependência, do emburrecimento coletivo, da ausência de liberdade e das urgências tolas, o grupo se apropriou de grande variedade de recursos, que vão de equipamentos multimídia à técnica de rapel. Roupagem que alinhava palavra e sentimentos em atmosfera estranha e perturbadora.O espetáculo começa na fila de espera, em contramão de intenções. Enquanto o público, ansioso, aguarda para entrar, a protagonista ganha a rua e invade um bar. Sobe em carros e interrompe o trânsito. É o lado de fora seu espaço na trama. Encurralados, pagantes e convidados seguem, carimbados um a um, em contagem, como gado rumo ao abatedouro. Os chicletes de brinde, logo na entrada, parecem sugerir que a platéia masque como as vacas fazem no curral. O som, de fundo, traz leiloeiro de programa agropecuário. Os espectadores se ajeitam, sentados de frente para a parede, de costas para a área de ação da trama. Porteira fechada, dá-se o segundo movimento com criativo texto de “desliguem seus celulares, não fotografem...” etc. Arquibancadas invertidas, é hora de ficar de frente para o espetáculo. O tempo que se segue é de absurda retratação da realidade e asfixia.Conjunto forteA força do elenco está no conjunto. Característica elementar das propostas de aprendizado, os atores estão a serviço do todo. Cada um cumpre com relativo vigor o seu papel. O que se vê é desdobramento de processo. Em cena, o ator-criador imprime sua leitura, seu entendimento da idéia agrupada de direção. Chama a atenção a consciência corporal da grande maioria. Quando o peixe salta é um espetáculo físico, de entrelinhas, de metáforas. Há, no entanto, o pecado do excesso, assombração para jovens atores, adeptos ao teatro experimental. Em meia dúzia deles, por vezes, é possível identificar o ar de “ei, estou fazendo teatro” ou “veja do que sou capaz”. Isso, para a bela dramaturgia de Quando o peixe salta, definitivamente, não é bom. É quando faz falta a verdade, a fé e a emoção.Figurino, iluminação e trilha sonora são pontos fortes desta 9ª edição do Oficinão. Com tantos acertos, o exagero por parte do numeroso elenco não compromete. Poderia passar despercebido, coberto por tão rico mise-en-scène. Em Quando o peixe salta, a qualidade berra. O vídeo, canal de comunicação com a personagem ausente, é idéia preciosa realizada com competência. Traz a personagem Jota, ao vivo, para dentro do galpão. Aliás, letra carimbada no antebraço do espectador, logo na entrada, para que ele saiba bem que não é apenas espectador.

Nenhum comentário: